terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O INTELECTUAL DE HOJE 1



O INTELECTUAL DE HOJE 1
Nelson Matos de Noronha

            Gostaria de desenvolver algumas reflexões sobre a participação de um determinado personagem na esfera pública da cultura. Inicialmente, minha intenção era falar do papel do filósofo na vida social. Mas ocorreu-me que eu teria muitas dificuldades para explicar o que se pretende dizer quando se usam esses termos: “papel” e “filósofo”. No primeiro caso, a primeira coisa que me veio à mente foi o Teatro, onde as peças são apresentadas e os atores representam “papéis”. Essa associação não me pareceu conveniente, pois, com ela, corre-se o risco de atribuir ao filósofo uma tarefa previamente elaborada e circunscrita à estrutura de um discurso ou de um diálogo fadado à repetir-se perpetuamente. No que tange ao significado do termo “filósofo”, não se trata de um risco, o que me preocupa, e sim, a certeza de que, mediante a inserção da Filosofia no rol das disciplinas escolares, essa palavra tornou-se institucional e conduziu-nos ao entendimento comum de que Filósofo é o profissional encarregado de ensinar o conteúdo da Filosofia em todos os níveis do sistema educacional.
            Não sei se, ao adotar o título acima grafado, serei capaz de desviar-me de dificuldades tão ou mais graves quanto as que indiquei no parágrafo anterior. Sei, no entanto, que, o termo “intelectual” possui maior alcance do que o termo “filósofo” e que, por isso, ele me permite referir-me tanto ao Professor de Filosofia quanto ao criador de uma disciplina científica, como Freud, com a Psicanálise, Lévi-Strauss, com a Antropologia Social, Max Planck, com a Mecânica Quântica ou Marshal Niremberg, com a estrutura do DNA, sem falar nos autores clássicos da história da filosofia. Entendi, também, que, ao associar o personagem a que me refiro o tempo presente, poderei limitar minha reflexão às circunstâncias que, no momento, suscitam a necessidade de trocar algumas palavras com meus alunos e amigos a propósito desse tema.
            O que me move a fazê-lo, portanto, são as seguintes determinações: 1. A inserção da Filosofia como disciplina obrigatória do currículo do ensino médio no Brasil; 2. O quadro de precariedade em que se encontram os indicadores de educação e desenvolvimento econômico o social do país; 3. A tendência à profissionalização do portador de diploma de curso superior em filosofia; 4. A expansão do ensino superior no Brasil; 5. A recente organização de um Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia no Brasil.
            Buscarei, nas próximas “postagens”, como tais fatores determinam a preocupação que ora lhes apresento.

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